setembro 04, 2008

As lições que a vida nos ensina

Há algum tempo atrás, os médicos, ou melhor, os boticários, iam de casa em casa e tratavam as pessoas pesquisando seus sintomas, sondando o modo de vida, perguntando sobre sua alimentação, sobre a cor das fezes, urina... Olhavam os olhos, auscultavam o coração, pulmões e principalmente, escutavam os pacientes com suas dores físicas, emocionais ou espirituais. Os recursos técnicos, mecânicos eram escassos, e muitas vezes o resultado do tratamento não era o esperado devido a carência de recursos. O tempo passou, a ciência evoluiu, os recursos são inúmeros. A tecnologia avançada permite salvar, aumentar a expectativa de vida , diminuir o sofrimento de muitos. Todavia, o que se ganha em tecnologia, se perde em HUMANIZAÇÃO...
É comum nos depararmos com pessoas que expressam sua indignação pela atitude de médicos que mal escutam e nem sequer olham o paciente. São consultas de tempo inferior a 5 minutos, onde o paciente logo sai com um medicamento prescrito. Com a ciência CARTESIANA, o mundo PÓS-MODERNO, e a conseqüente RAPIDEZ, muitos profissionais da saúde focam a doença, o órgão adoecido e esquecem a pessoa. Não olham nos olhos, não mais sondam o modo de vida, nem inquirem sobre fezes, urinas... Mal ESCUTAM o paciente. Diante de tanta tecnologia preenchem logo uma seqüência de pedidos de exames. As “máquinas” dirão o que o sujeito tem!
Fazem dos resultados dos exames a VERDADE absoluta, e, desconsideram tudo o que o paciente relata, ou ainda aproveitam a normose de achar que todas que sofrem com sintomas que não são detectados através de exames, têm DEPRESSÃO. Tornamos-nos vítimas desse pragmatismo médico!

Passamos ao relato de uma história real. Há menos de um mês vivenciamos uma experiência dolorosa. Um problema de saúde com nossa mãe, que vamos chamá-la aqui de Vitoriosa, foi tratado durante sete meses, como gastrite e depressão por alguns especialistas. Os exames foram o referencial em que se basearam para os diagnósticos e acompanhamentos periódicos.
‘Há quatro anos Vitoriosa vencera um câncer de mama, e por este motivo fazia acompanhamento com uma oncologista. Apesar das visitas periódicas e das descrições em relação aos sintomas que vinha sentindo, a volta do câncer fora descartado, pela especialista, que se baseou nas evidências dos exames e não nas queixas de Vitoriosa. Foi diagnosticado que Vitoriosa estava com depressão e anorexia. O passo seguinte foi encaminhá-la ao psiquiatra.
As evidências de que alguma coisa não estava bem eram visíveis. Vitoriosa emagreceu escandalosamente, sentia dores abdominais, uma fraqueza enorme, mal alimentava. Em um curto espaço de tempo, entre junho e julho exauriu-se, e, mesmo diante da insistência da família, para que algo fosse feito, a especialista teimava em afirmar que os exames que detectavam metástase, tiveram resultados negativos. Segundo ela, o mal que acometia Vitoriosa era depressão e que não havia nada a fazer, pois, Vitoriosa havia desistido de viver.


Infelizmente o quadro de saúde de Vitoriosa piorou, a família teve que interna-la às pressas e em menos de uma hora, com um simples exame clínico, o médico que a atendeu, sentiu a presença de tumor na região abdominal, confirmado por ultra – sonografia. TUMOR NO RETROPERITÔNIO. Todos os diagnósticos anteriores estavam errados, e, Vitoriosa que durante sete meses lutou bravamente contra as dores abdominais, teve seu mal diagnosticado, estava em estágio terminal. Foi direto para o balão de oxigênio, sonda colocada e todos os procedimentos realizados no sentido de diminuir seu sofrimento. Cinco dias depois Vitoriosa falecia de NEOPLASIA ABDOMINAL. ’

INDIGNAÇÃO! Este é o sentimento que nos envolve e paralisa. Em função deste pragmatismo médico, desta ciência cartesiana, onde os resultados falam mais alto do que os sintomas relatados pela paciente, tivemos a vida de uma pessoa, uma mulher ceifada. Ainda que o tumor fosse “incurável”, todo o encaminhamento do tratamento teria outro rumo, se diagnosticado corretamente, se nossa Mãe não tivesse tido suas queixas ignoradas pela profissional. Foi um grave equívoco!

Está sendo doloroso demais, porém estamos aprendendo mais esta lição da vida. Ao compartilharmos nossa experiência, fazemos como alerta às milhares de mulheres e homens que são acometidas por doenças diversas e aos profissionais de saúde:
Os avanços tecnológicos são fundamentais para a cura de muitos males, mas é imprescindível que venham aliados a profissionais que não percam de vista o referencial “humano”. Não é admissível que, assim como nós, muitas pessoas convivam com a dor da perda, que poderia ser evitada, simplesmente porque um profissional acreditou no que diziam os exames, ficando surdo(a) às queixas de sua paciente!

Ivone Cunha Teixeira – Arteterapeuta e
Geralda Ferraz – Especialista em Comunicação Pública

Nenhum comentário:

Postar um comentário